Anel Rodoviário terá mais três radares neste mês


Redução da velocidade e restrição de veículos pesados também estão em estudo para diminuição dos acidentes


RENATO COBUCCI
Acidente no Anel
Tacógrafo mostrou que caminhão excedeu velocidade no acidente de sexta (28)
Três radares móveis serão instalados nos sete primeiros quilômetros do Anel Rodoviário, no trecho entre os bairros Olhos D´água e Industrial, até o próximo dia 20. Uma equipe técnica do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) chega de Brasília na manhã de hoje para analisar a situação da via. Somados ao radar fixo, que já funciona no local, serão quatro detectores de velocidade no trecho. Nesta segunda-feira (31), mais um acidente aconteceu na rodovia, envolvendo sete veículos.

Até o final da semana, a prefeitura pode decretar situação de emergência no Anel Rodoviário. A medida pode acelerar algumas obras já previstas no projeto de reforma. O Dnit estuda ainda a possibilidade de reduzir a velocidade permitida para caminhões, que atualmente é de 70 quilômetros por hora.

Caso a situação de emergência se confirme, a primeira intervenção seria o alargamento da pista sob o viaduto da linha férrea, que passa por cima do Anel, na altura do Bairro Betânia. Atualmente, o local tem apenas duas faixas, o que causa um estrangulamento da pista. O problema é apontado pela Polícia Militar Rodoviária como o principal motivo de acidentes.

A princípio, os três novos equipamentos ficarão localizados no primeiro quilômetro do Anel, nos bairros Olhos D´água e Paraíso, depois da entrada para o Buritis, e próximo ao Viaduto de acesso ao Betânia.

Todos os equipamentos vão registrar os veículos que seguem no sentido Nordeste, rumo às entradas da BR-040, sentido Brasília, e da BR-381, sentido São Paulo. O trecho é sinuoso e tem sete quilômetros de descida contínua.

Foi exatamente no final do sétimo quilômetro, no Bairro Betânia, que aconteceu o acidente da última sexta-feira. Uma carreta descontrolada carregada com 37 toneladas de trigo atingiu outros 16 veículos, matando cinco pessoas e ferindo 12.

Na tarde desta segunda-feira (31), mais uma das vítimas, Vanderci Barreto da Silva, 48 anos, teve alta do Hospital de Pronto Socorro João XXIII. Laura Gibosky Rodrigues Carvalho, 4 anos, seguia em coma, em estado grave mas estável.

A reunião da tarde desta segunda-feira (31) entre o prefeito Marcio Lacerda (PSB), representantes do Dnit, polícias rodoviárias militar e federal durou duas horas. Segundo Lacerda, que defendeu a restrição do trânsito de veículos pesados durante o final de semana, a solução técnica vai depender dos especialistas.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Setcemg), Ulisses Martins Cruz, a restrição de caminhões no trecho seria inviável. Segundo ele, ao contrário de outras cidades, como São Paulo, onde a medida já foi tomada em algumas vias, o Anel não oferece aos motoristas de caminhões e carretas alternativa de rota. “A solução para os acidentes é aumentar a sinalização e a fiscalização”.

De acordo com o chefe de Engenharia do Dnit em Minas, Álvaro Carvalho, a possibilidade de restrição aos veículos pesados é “remota”. Segundo ele, a falta de opções para veículos pesados seria a maior dificuldade, já que há restrição nas principais vias de Belo Horizonte.

Anel
Com a propriedade de quem conhece os principais atalhos de Belo Horizonte, taxistas recomendam um rota alternativa ao perigoso declive do Anel Rodoviário, localizado entre o Olhos D’água e o Betânia. O itinerário começa no trevo do BH Shopping, passa pelas avenidas Raja Gabaglia, Barão Homem de Melo e Mário Werneck e termina na Avenida Tereza Cristina, no Betânia.

O percurso atende às pessoas que precisam se deslocar da Região Centro-Sul rumo às regiões Oeste e Barreiro. O taxista William dos Santos Lemos, 27 anos, atua em um ponto no Barreiro de Baixo. Sempre que precisa ir ou voltar do Belvedere, conta, sugere aos passageiros a rota alternativa. “A pessoa nem sempre concorda porque está com pressa, mas muitos aceitam o argumento de que o Anel Rodoviário é muito perigoso”, diz.

Entre o Barreiro e o BH Shopping pelo Anel Rodoviário, a viagem de táxi leva, em média, 15 minutos. Pela rota alternativa, o percurso varia entre 20 e 25 minutos.
Já o taxista Valdetino Silva Araújo Júnior, 40 anos, não vê diferença no tempo de viagem entre os dois trajetos. “O trânsito por dentro dos bairros é bom, sem congestionamento, mesmo no horário de pico”, garante.

Em torno de 120 mil veículos passam pelo Anel Rodoviário diariamente, 24 mil deles caminhões e carretas. Para o chefe do Departamento de Engenharia e Transportes da UFMG, professor Nilson Nunes, melhor solução que adotar rotas alternativas é aumentar a fiscalização no Anel. Ele defende que a rodovia, de característica urbana, tenha sua administração transferida do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para o Governo do Estado ou mesmo para o próprio município.

Outra medida a ser adotada com urgência, defende Nunes, é a adoção de mecanismos que reduzam a velocidade dos veículos de carga. “A pessoa vem da BR-040, que é uma rodovia, entra em um anel viário e acha que pode manter o padrão de velocidade. E não pode”.

Em maio do ano passado, reportagem do Hoje em Dia revelou que até os policiais rodoviários responsáveis pelo monitoramento do Anel Rodoviário evitavam trafegar pelo local nas folgas.

Construído na década de 50, o Anel Rodoviário tem vários pontos de gargalo, que provocam congestionamentos nos horários de pico e risco de engavetamento.