Prejuízo .Apesar de "gatos" serem mais comuns na periferia, classes média e alta consomem 75% do que é roubado Furto de energia cresce 32% na RMBH e é maior entre os ricos

Em 2011,


FOTO: ALISSON GONTIJO - 20.9.2010
Gambiarra. Os "gatos" nas regiões de periferia são feitos diretamente na rede elétrica; o tipo de furto pode provocar choques e até incêndios


a Cemig promete investir na fiscalização e, com isso, fechar o cerco aos furtos de energia elétrica no Estado, que acumulam prejuízos anuais estimados em R$ 280 milhões. Só ano passado, na região metropolitana, os desvios irregulares de energia e as ligações clandestinas - conhecidas como ‘gatos’ - cresceram 32%. Foram identificados 42.500 pontos de furtos contra 32.240 no ano anterior.

Apesar das gambiarras serem mais comuns em aglomerados e bairros de periferia, a Cemig constatou que 75% da energia é furtada pelos ricos. Em 2010, foram 750 gigawatts, quantidade que daria para abastecer, por exemplo, 560 residências com consumo padrão de 120 quilowatts.

O gerente de Gestão e Controle de Perdas da Cemig, Luiz Renato Fraga Rios, aponta que, embora 54% dos "gatos" tenham sido detectados em áreas de baixa renda, o maior volume de energia é furtada pelos consumidores de classes média e alta que residem em em casas de luxo e pelo comércio ou mesmo indústrias. "A quantidade de energia desviadas pelas pessoas de melhor poder aquisitivo é muito superior", salientou Rios.

Uma estimativa feita pela direção técnica da Cemig aponta para 560 mil ligações irregulares em todo Estado. O número equivale hoje a 7% dos 7 milhões de clientes formais atendidos pela empresa. Somente na região metropolitana de Belo Horizonte, a estimativa é que haja 51 mil "gatos".

Das irregularidades que foram detectadas nos imóveis da capital, 63% foram registradas no vetor Norte da cidade, que abrange as regiões de Venda Nova, Norte, Nordeste e Pampulha. "A cada dez inspeções, são encontradas irregularidades em sete", disse Rios.

Das 42.500 irregularidades de furto de energia, que foram descobertas e regularizadas na capital e região metropolitana, 3.500 eram de "gatos". Para a Cemig, essa regularização significou a recuperação de 215 gigawatts/hora, energia mais que suficiente para abastecer por um ano todas as residências de Contagem, com 200 mil imóveis.

Diante do quadro, considerado crítico, a Cemig promete aumentar a fiscalização. A empresa desenvolveu um mapa de diagnóstico e conta também com denúncias de leituristas e eletricistas. Além disso, inconsistências de faturamento serão analisadas através de um software específico.
CONSEQUÊNCIAS
Desvios são ilegais e perigosos
Além de serem ilegais, as ligações irregulares aumentam as chances de problemas na rede elétrica e podem causar acidentes fatais. Os furtos de energia podem gerar, por exemplo, a sobrecarga no sistema elétrico ou variação de tensões, o que provoca a queima de eletrodomésticos, choques e até incêndios, além do desperdício de energia.

Entre os consumidores de Minas, a fraude mais comum é a que adultera a medição do consumo por meio do padrão de energia. Com essa prática, o consumo registrado é sempre menor que o real.

Os "gatos" são feitos diretamente na rede. De acordo com informações da Cemig, esse tipo de operação é realizado por pessoas com poder aquisitivo mais baixo, que não têm condições de pagar pelo serviço. Já os mais ricos costumam fazer a alteração direto no relógio da Cemig.

Um outro problema, ainda de acordo com o gerente da Cemig, é a redução na qualidade da energia que chega até as casas. "Se essas perdas de energia chegassem a zero, certamente a conta de energia para o cliente seria mais baixa", afirmou Reis.

Aumento. Se para a Cemig o furto de energia representa um rombo financeiro, o gerente de Gestão e Controle de Perdas da Cemig, Luiz Renato Fraga Rios, explica que, para os consumidores significa aumento na conta de luz. "No fim, isso é repassado em aumento nas tarifas. O consumidor honesto acaba assumindo todo o ônus da distribuição; ele paga pelas perdas", explicou o gerente da empresa.
Crime pode gerar multa e prisão
Os "gatos", como são chamadas popularmente as ligações clandestinas de energia elétrica, são considerados crimes, tipificados no Código Penal, no artigo 155, com prisão e multa.

Nos casos de flagrantes de irregularidades, a energia do consumidor é suspensa, sendo ele notificados sobre a abertura de processo administrativo, que irá apontar a fraude. O processo é enviado à Justiça. De acordo com a legislação, a pena para esse crime é a reclusão de um a quatro anos e multa.

Em 2009, os "gatos" de energia resultaram em prejuízo de R$ 3,6 bilhões no país, de acordo com a Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee).
Saiba mais
Prejuízo. Os furtos de energia elétrica são crime e, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), dão um prejuízo anual ao país de cerca de R$ 5 bilhões.

Perdas.Embora o número de furto de energia tenha aumentado em 32%, em 2009, a Cemig apresentou níveis de perdas comerciais de 2,33%, abaixo dos valores médios apurados no Brasil (5,8%).
O que fazer. O cidadão pode denunciar casos de "gatos" pela internet, email (atendimento@cemig.com.br), ou por telefone. As informações podem ser repassadas através do 116 ou do 0800 7210 116.