Fogo na Cidade do Samba não desanima foliões mineiros


Prefeitura libera R$ 3 milhões para garantir que as três escolas levem o desfile para a Marquês de Sapucaí


LUCAS PRATES
Carnaval
Camila garante que vai desfilar, mesmo sem a sonhada fantasia
RIO – A solidariedade das escolas de samba, aliada à liberação de R$ 3 milhões pela Prefeitura do Rio, vão garantir a participação da Grande Rio, Portela e União da Ilha no Carnaval carioca.

As agremiações que não foram afetadas pelo incêndio que destruiu galpões na Cidade do Samba na última segunda-feira (7) cederam espaço, mão de obra e material para refazer alegorias e 8.400 fantasias queimadas. A Grande Rio, escola que teve o barracão totalmente destruído, receberá R$ 1,5 milhão. União da Ilha e Portela, que foram menos prejudicadas com o incêndio, terão, cada uma, R$ 750 mil.

A garantia de participação das três escolas no desfile carioca reacendeu o ânimo de mineiros que estão contando os dias para entrar na Marquês de Sapucaí. Apesar da tristeza com a notícia do que foi destruído, se depender deles, a festa tem tudo para ser inesquecível.

O turismólogo Wagner de Barros Rocha, 54 anos, está com passagem marcada para o Rio de Janeiro. Há 22 anos ele desfila pela Portela e acredita que nada tira o brilho da festa. “Todos ficamos tristes com o incêndio. É o trabalho de toda uma comunidade que está ali. Mas, se depender da animação dos mineiros que vão desfilar, a vitória é certa”, afirma.

Considerada uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro, a Portela terá que refazer fantasias e alegorias preparadas para contar o enredo “Rio, azul da cor do mar”. A agremiação vai exaltar a bravura dos navegantes, criadores das rotas marítimas. O enredo ainda vai tratar dos mitos sobre monstros e criaturas das profundezas do mar.

Sem fantasia, mineira não desiste de desfilar

Somente na Portela, 2.800 fantasias que estavam no quarto andar do barracão foram destruídas. Entre elas, a da mineira Camila Freitas, 24 anos. A produtora de eventos desfila pela primeira vez como destaque da escola. “As fantasias de todos os destaques ficavam no quarto andar do barracão que foi destruído pelo fogo na Cidade do Samba. É o mesmo lugar onde ficavam as roupas dos integrantes da comunidade. Não sobrou nada”, lamenta.

Camila diz que a direção da Portela se comprometeu a recuperar a fantasia a tempo para o desfile. “A escola me garantiu que vai conseguir confeccionar uma nova fantasia, mas eu desfilaria de qualquer jeito, mesmo que não fosse com a fantasia tão sonhada”.
 
Escolas atingidas não serão julgadas

Além do recurso anunciado nesta terça-feira (8) pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) definiu que não haverá rebaixamento neste ano. Ficou acertado também que Grande Rio, Portela e União da Ilha não serão julgadas.

As três escolas desfilariam na segunda-feira de Carnaval, o que foi alterado. A Portela desfilará no domingo, no lugar da Mocidade. O folião que não estiver satisfeito com a mudança nos desfiles vai poder pedir o dinheiro de volta.

Segundo o coordenador de vendas da Liesa, Eron Schneider, não será possível fazer trocas porque os ingressos estão esgotados. “De qualquer forma, teremos uma lista de espera para quem quiser aguardar possíveis casos de devolução de ingressos esgotados. Todos os foliões – de dentro e fora da cidade – devem visitar o nosso site ou telefonar para a central de vendas de ingressos (21-2233-8151) para se informar sobre o processo de devolução do dinheiro”, disse Schneider.

Na família da recepcionista Carolina Alves Lima, 33 anos, de Belo Horizonte, sete integrantes vão para a avenida representando a União da Ilha. Desde os 12 anos Carolina faz questão de desfilar pela escola. Neste ano, ela integra a ala Alegrilha, e terá como tema da fantasia a flor Bromélia.

Carolina conta que cada fantasia custa, em média, R$ 600. Ela explica que os foliões que compraram as fantasias para desfilar na escola não tiveram prejuízo, pois as roupas das alas comerciais não foram atingidas. “As fantasias não ficam no barracão, ficam com a chefe de ala”, esclarece.

A União da Ilha foi a escola que menos sofreu com o fogo. Ela preparava carros e fantasias para contar o enredo “O mistério da vida” e explorar a evolução da espécie e as viagens do naturalista inglês Charles Darwin.
Laura Rio Alves, 11 anos, sobrinha de Carolina, desfila este ano pela primeira vez. Ela sai na Ala das Crianças da União da Ilha e diz estar emocionada em participar do Carnaval. “Estou contando os dias”, diz. O primo de Laura, Vitor Alves, 12 anos, também está ansioso pelo grande dia na avenida.