Promotor quer pena de morte para Ipabense

Mesmo sem corpos de família desaparecida autoridades falam em triplo homicídio



Alex Ferreira
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Maria Aparecida Gonçalves prefere acreditar que o filho não matou


IPABA – Todos os dias quando acorda a primeira coisa de que Maria Aparecida Gonçalves se lembra é que o filho está preso nos Estados Unidos. Moradora da rua Pastor Geraldo Sales, em Ipaba, Maria Aparecida vive o drama de não saber direito porque seu filho está atrás das grades.
Há mais de 30 dias a mãe não recebe uma ligação do filho, que saiu do Vale do Aço com o sonho de uma vida melhor e acabou preso, junto com outros dois conterrâneos, pela suspeita de envolvimento no desaparecimento da família Szczepanik, de Santa Catarina, que vivia nos EUA.
A promotoria de Justiça do estado de Nebraska já trata o caso como triplo homicídio o que complica a situação dos brasileiros. O principal acusado agora é Valdeir, contra quem o promotor responsável pelo caso já anuncia que pedirá a pena de morte. A informação foi publicada pelo sítio noticioso Ketv News.

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Valdeir pode pegar pena máxima


O filho de Aparecida, Valdeir Gonçalves Santos, 30 anos, deixou Ipaba em 2009. Casado e pai de três filhos, embarcou na viagem com o vizinho, José Carlos Oliveira Coutinho, 35 anos, que vivia nos EUA havia quatro anos e o amigo, também vizinho, Elias Lourenço Batista, de 29 anos. Um quarto ipabense foi deportado logo ao chegar aos EUA. Os que conseguiram atravessar do México para os EUA foram trabalhar em obras de reforma de uma antiga escola na cidade de Omaha (Nebraska), que se transformaria em um centro missionário.
O patrão deles, o catarinense Vanderlei Szczepanik, sua mulher Jaqueline (ambos de 43 anos) e o filho Christopher, de 7 anos, desapareceram no dia 17 de dezembro de 2009. Dias depois os três ipabenses foram presos, primeiro por estarem ilegalmente nos EUA.
Depois a polícia descobriu que eles tinham usado os cartões de crédito da família desaparecida e agora a promotoria de Justiça anuncia a novidade no caso: A família estaria morta e Valdeir é o principal acusado.

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Elias não está livre de ser acusado no triplo homicídio


Suspeita
Embora a polícia ainda tente descobrir os corpos da família Szczepanik e não tenha confirmado como a família foi morta, o promotor Don Kleine afirmou em entrevista à imprensa no dia 28 de janeiro que, de Valdeir, serão cobradas três acusações de assassinato em primeiro grau na morte presumida de Vanderlei, Jaqueline e Christopher Szczepanik. O promotor disse que poderá pedir a pena de morte para Valdeir, uma possibilidade grande, pois as investigações concluem que o triplo homicídio foi cometido com intuito de ganho financeiro, o que configura crime hediondo.
Sobre a situação de José Carlos Oliveira e Elias Lourenço, o promotor informou que eles ainda podem ser acusados formalmente do crime de assassinato. Falta definir como foi a participação deles. Essa foi a primeira vez que uma autoridade falou em morte da família. Até agora o caso era tratado como desaparecimento. A investigação das mortes envolve órgãos federais, inclusive o FBI. A filha de Jaqueline, Tatiane Costa Klein, viajou no fim de 2010 aos EUA e acompanha o caso de perto. Sobre a pena de morte pedida para Valdeir, Tatiane disse em entrevista ao site Comunidade News, que é contra. “Sou a favor da prisão perpétua. Só que não está nas minhas mãos, no meu poder”.
A chefia de polícia de Omaha reconhece que a ausência dos corpos dificulta o fechamento das investigações. No entanto, destaca que não existem registros de qualquer viagem da família e nem de operações financeiras com os seus bens. Há indícios no processo que apontam, por exemplo, marcas de sangue nas paredes dos quartos da casa onde a família Czczepanik morava junto com os três ipabenses.

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Polícia e promotoria já considera a hipótese da morte da família Szczepanik


Famílias em desespero
Enquanto não se definem responsabilidades no caso, as famílias dos três ipabenses presos vivem momentos de angústia no Vale do Aço. A mãe de Valdeir disse não acreditar que o filho tenha matado alguém. “Ele sempre foi trabalhador, nunca se envolveu em um crime e saiu daqui com o sonho de dar uma vida melhor para seus filhos. A última vez em que falei com ele, estava apreensivo e perguntou pelos filhos. Ele só me disse que não matou ninguém e que esperava sair em breve da cadeia”, diz a mãe com os olhos renitentes às lágrimas, a olhar para a foto que Valdeir deixou antes de embarcar na viagem.
Já a família de Elias Lourenço está revoltada. Casado e pai de três filhos, um de dois, outro de 7 e um terceiro de 9 anos, Elias informou à família que assumiu uma dívida de R$ 45 mil para ser levado aos EUA. “Ele trabalhou mais de 11 meses para pagar isso e apenas alguns meses antes de ser preso em 2010 começou a enviar dinheiro para a mulher”, relatam familiares.

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José Carlos Coutinho confessou furto dos cartões de crédito da família


Outra família mergulhada na apreensão é a de José Carlos Oliveira. A sua mulher, Patrícia Barbosa dos Santos Oliveira, afirma que tem vivido dias de angústia. Ela já sabe que deverá enfrentar o desafio de contar aos filhos, um de 9 e outro de 11 anos, a situação em que o pai deles está nos EUA. Patrícia não trabalha fora e apenas cuida da casa e dos meninos.
Patrícia está há 20 dias sem contato com o marido e diz não acreditar que Valdeir vá pegar pena de morte. Patrícia também confirma que seu marido confessou em audiência o furto dos cartões de crédito da família Szczepanik. “Mas não há informações sobre mortes. Acredito que muitas novidades deverão surgir em torno deste caso nos próximos dias. O que sabemos é que havia conflitos entre os trabalhadores e o patrão Vanderlei. No entanto, nada justifica tirar uma vida. Quem errou tem que pagar”, afirmou.
Patrícia também confirma que a única defesa dos brasileiros em Omaha é feita pela defensoria pública de Nebraska. “Cada um tem um advogado lá”, completou.

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Os brasileiros moravam todos juntos nessa casa em Omaha


Famílias que ficaram em Ipaba estão em conflito
Por mais de uma hora em que a reportagem do DIÁRIO DO AÇO esteve na rua Pastor Geraldo Sales, em Ipaba, foi visível o clima de tensão entre as famílias vizinhas. Patrícia, mulher de José Carlos, mora em frente a casa de Maria Aparecida, mãe de Valdeir. E a família de Elias mora a poucos metros dali.
A prisão deles nos EUA gerou uma situação conflitante. As famílias de Elias e Valdeir acusam José Carlos pela situação, pois ele foi o responsável pela ida dos três ipabenses para os EUA, dos quais um foi apanhado na fronteira e deportado. “Foi uma viagem aterrorizante, marcada por sequestros, acampamentos no meio de matas e viagens clandestinas em trens de carga. Meu filho trabalhou lá mais de um ano e mandou pouco dinheiro para sua mulher e filhos”, relata Aparecida Gonçalves.
A família de Elias Lourenço acompanha todos os dias os sítios de notícias dos EUA, em busca de novidades sobre o caso. Certa de que há muita coisa escondida sobre o caso, a família de Elias relata que o sossego de todos acabou há um ano, com a prisão de Elias. “Já acionamos a Polícia Federal, mas a única informação é que a polícia brasileira só entra no caso se for para ajudar nas investigações que ocorrem lá nos Estados Unidos. Nós estamos sofrendo. Mas da mesma forma sofrem também os parentes da família desaparecida”, diz uma das familiares de Elias.
Patrícia, mulher de José Carlos confirma a tensão entre as famílias. “Fui acusada injustamente em reportagem de ser coiote. Isso é uma inverdade. Já fui ameaçada de morte e temo pela segurança dos meus filhos”, concluiu.