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Protestos prendem o prefeito de Salvador por cerca de oito horas na Câmara Municipal

Protestos, empurra-empurra, e um prefeito acuado marcaram a abertura dos trabalhos na Câmara de Vereadores de Salvador (BA) na tarde desta terça-feira (1º). Sindicalistas, servidores e funcionários terceirizados da prefeitura –de áreas como educação, limpeza pública e segurança– aproveitaram a anunciada aparição do prefeito João Henrique Carneiro no evento para protestar contra o atraso nos salários.
O prefeito passa por uma crise política devido ao isolamento em seu partido, o PMDB. Ele corre o risco de ser expulso da legenda acusado de má administração municipal.João Henrique não tem dinheiro em caixa nem mesmo para custear o pagamento de terceirizados, tendo ainda à frente o desafio de preparar a cidade para ser uma das subsedes da Copa do Mundo de 2014.
Temendo hostilidades, o prefeito antecipou em quatro horas a sua chegada à Casa Legislativa, ainda pela manhã. Ele almoçou no local e só conseguiu driblar o cerco dos manifestantes e deixar a Câmara por volta das 18h30, com a ajuda de seguranças.
Os manifestantes, que segundo a Polícia Militar eram cerca de 300, tentaram entrar na Casa no início da tarde, mas foram barrados pela segurança sob o argumento de que a capacidade máxima havia sido preenchida. O grupo era formado por professores da rede municipal, estudantes secundaristas, representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp) e por vigilantes demitidos recentemente por empresas terceirizadas que prestam serviços ao município e cujos salários não são pagos desde novembro.
Um pequeno grupo conseguiu entrar na Câmara com a ajuda de vereadores da bancada da oposição, como Olívia Santana (PCdoB), Henrique Carballal (PT) e Gilmar Santiago (PT). Este último chegou a ser empurrado por um segurança que impedia o acesso dos manifestantes e teve os olhos atingidos por spray de pimenta.
“Não vi exatamente quem me atingiu. Mas, de qualquer forma isso é um absurdo, uma violência desnecessária. Vou levar a situação à Assistência Militar da Câmara e vamos exigir a identificação do agressor e que outras providências cabíveis sejam tomadas”, afirmou Gilmar Santiago.
Alheio à confusão, João Henrique começou a leitura da mensagem do Executivo às 15h. Dentro do plenário, predominavam os gritos de apoio à administração municipal. “Não adianta perseguir, nem tão pouco esculhambar. O povo quer João e ele vai ficar”, dizia o coro. Do lado fora as palavras de ordem eram "mentiroso e traidor".
Em razão das manifestações, o prefeito interrompeu várias vezes a leitura da mensagem, enquanto o presidente da Casa, Pedro Godinho, pedia calma aos presentes.Ao final do discurso, João Henrique voltou à sala da presidência da Câmara, onde permaneceu até o início da noite, quando conseguiu deixar o local.
A diretora da APLB-Sindicato, associação que representa os professores baianos, Elza Melo, reclamou do fato de a categoria ter sido mantida à distância. “Foi um absurdo o que eles fizeram, pois ali estavam educadores, vigilantes, estudantes e trabalhadores. As manifestações populares são legítimas, principalmente numa cidade cuja prefeitura enfrenta uma crise dessas."
Para a educadora, o gestor municipal deve explicações aos profissionais do município. “Exigimos que ele nos informe como o ano letivo, que começa no próximo dia 14, vai começar. As escolas estão sem professor, sem segurança, sem merendeiras. Estão abandonadas. Muitas sendo assaltadas. Queremos que ele readmita vigilantes demitidos, que pague aos terceirizados que não recebem nada há três meses e dê condições mínimas de funcionamento nas escolas", finalizou.