tragédia que matou 15 pessoas e deixou 56 feridas em Bandeira do Sul,


Polícia abre inquérito para investigar causa de acidente

Versão de que um homem jogou serpentina metalizada sobre a rede elétrica é a mais forte; suspeito foi identificado


CRISTIANO COUTO
bandeira do sul
Amigos e parentes recolheram pertences das vítimas na praça central da cidade
A Polícia Civil aguarda laudo da perícia técnica para confirmar que o contato de uma serpentina metálica com a rede de energia elétrica provocou a tragédia que matou 15 pessoas e deixou 56 feridas em Bandeira do Sul, no Sul de Minas. Nesta segunda-feira (28), a Cemig descartou que o cabeamento no município tivesse problemas e garantiu que fez uma manutenção no local, a pedido da prefeitura, cinco dias antes do evento pré-carnavalesco.

Segundo a empresa, o tempo entre o curto-circuito e a desativação automática da rede foi de três segundos. Neste intervalo, os cabos de energia rompidos atingiram o trio elétrico e parte da multidão de 6 mil pessoas que o acompanhavam no início da noite de domingo. A descarga elétrica foi de 8 mil volts. A Prefeitura de Bandeira do Sul decretou luto oficial de três dias. Moradores de lá e de Campestre, Poços de Caldas, Botelho e Machado, todas cidades no Sul de Minas, velaram as vítimas.

De acordo com o delegado Ademir Luiz Corrêa, que preside o inquérito, os indícios de que o curto-circuito foi provocado pela serpentina são fortes. Mas o policial não descarta outras possibilidades e diz que somente o laudo da perícia, que deverá sair em dez dias, poderá confirmar a versão de testemunhas. Elas começaram a prestar depoimento nesta segunda.

A polícia já tem um suspeito. Imagens de uma emissora de televisão que mostrariam o exato momento em que ele lança a serpentina para o alto serão analisadas e poderão permitir a identificação do responsável pelo acidente. A tragédia aconteceu na Praça Nossa Senhora Aparecida, no Centro da cidade. A versão de que teria sido causada após o trio elétrico bater em um poste foi descartada, já que ficou confirmado que o caminhão estava parado no momento do acidente. O veículo tem a documentação regular e foi apreendido para novas perícias.

O delegado não acredita que o acidente tenha sido um ato criminoso. No entanto, o autor poderá responder por homicídio culposo – quando não há intenção de matar. “Mesmo não sendo intencional, se forem comprovadas as informações que temos, trata-se de uma atitude imprudente, pois a embalagem do produto orienta que ele deve ser usado longe da rede elétrica”.

O coordenador geral do Sindicato dos Eletricitários (Sindieletro-MG), Jairo Nogueira, alega que a manutenção da rede elétrica em todo o Estado é precária, e que o sistema deveria ter se desarmado assim que os fios foram rompidos. Mas o superintendente de Relacionamento Comercial da Cemig, Ricardo Rocha, afirma que não houve falha. “Estivemos em Bandeira do Sul no dia 23. A manutenção previa a presença do trio elétrico, por isso toda cautela necessária foi tomada”.

Festa sem plano de prevenção

O delegado responsável pelo caso, Ademir Luiz Corrêa, vai questionar a Prefeitura de Bandeira do Sul e os organizadores do evento pela falta de um plano de prevenção e pânico para o pré-carnavalesco. O projeto deveria ter sido aprovado pelo Corpo de Bombeiros.

Para o subcomandante da 2ª Companhia do 9º Batalhão dos Bombeiros de Poços de Caldas, Douglas Martins, a prefeitura deveria ter solicitado a elaboração do documento conforme determina a lei estadual 14130/2001. A falta dele pode implicar multas, interdição e advertência aos responsáveis. A área de abrangência da companhia inclui Bandeira do Sul.

Mesmo não recebendo a solicitação, o Corpo de Bombeiros garante que vistoriou o local onde foi realizada a festa. Porém, não constatou riscos suficientes para suspender o evento.

O militar acredita que a existência do plano não teria evitado o acidente. “Se tivesse um risco iminente, se tivesse um palco caindo ou um trio elétrico em más condições, poderíamos pedir a interdição. Mas trata-se de uma fatalidade cometida por alguém que não respeitou as orientações de uso do produto. Este é um caso que dificilmente poderia ser prevenido”.

O tenente dos Bombeiros alerta para os riscos que os foliões correm durante grandes eventos, como o Carnaval de rua, por mais que as forças de segurança se empenhem para garantir a integridade física do público.


Ele criticou a livre comercialização do lançador de serpentina metálica, diante do perigo que ele oferece. Diferentemente de fogos de artifícios, onde há um maior controle na venda e na própria utilização, o dispositivo, apesar de perigoso, não sofre nenhuma restrição de uso.

Outro perigo apontado pelo militar foi visto nas ruas de Bandeira do Sul: jatos d’água sendo lançados na multidão. “Se a água atinge a rede elétrica, se torna condutora de energia”, diz o bombeiro, para quem o líquido pode ter potencializado a condução da energia entre as vítimas.

O alerta de redobrar as atenções também serve para que vai curtir as festas em cima de trios elétricos ou carros alegóricos. Os riscos de colisão com a rede elétrica ou a queda provocada por galhos de árvores são iminentes.
A orientação da Cemig quanto aos dois tipos de veículos é de que os motoristas não trafeguem sob a rede elétrica energizada, já que a altura desses veículos pode ser maior que a dos cabos.

Segundo a Cemig, os promotores do evento devem considerar a altura do veículo e das pessoas sobre ele em relação à fiação e aos demais obstáculos.

Serpentina