Zezé Di Camargo & Luciano falam ao Pampulha sobre carreira, briga, projetos e velhice

FOTO: SONY MUSIC/DIVULGAÇÃO
Dupla sertaneja de maior sucesso do país, Zezé Di Camargo & Luciano conversam com o Pampulha sobre o show que mostra no Chevrolet Hall neste sábado (3), a polêmica briga dos dois, o sonho de gravar um disco só com músicas de Roberto Carlos e o que acham dos artistas que fazem o chamado "sertanejo universitário". E mais: Zezé revela que compôs seu maior sucesso, "É o Amor", inspirado na gravação de "Negue", por Maria Bethânia. Confira abaixo a entrevista:
Gostaria que vocês falassem um pouco do show que apresentam neste sábado (3) no Chevrolet Hall. O repertório é basicamente feito dos grandes sucessos da dupla, ou tem canções que vocês cantam no palco, mas ainda não gravaram?
Zezé Di Camargo - Estamos com a turnê Zezé Di Camargo e Luciano 2011, que reúne sucessos de nossos 20 anos de estrada, mesclando canções como "Você Vai Ver", "Vem ficar comigo", "A Ferro e Fogo", "Pra Mudar a Minha Vida", "Antes de Voltar pra Casa", "Coração Está em Pedaços", "Na Hora H", "Saudade Bandida", "Como um Anjo", "Sem Medo de Ser Feliz", "No Dia em que Saí de Casa", "É o Amor" (claro e sempre), "Saudade", "Mexe que É Bom" e "Pão de Mel" com sucessos mais recentes, como "Tapa na Cara", "Tão Linda e Tão Louca" e "Mentes Tão Bem". As mais novas são do CD passado, "Double Face". Em breve, vamos lançar nosso quarto DVD, gravado dia 13/9 no Golden Hall, em São Paulo, e que contou com a participação de Paula Fernandes.
A Wanessa é quem dirige o show. Zezé, gostaria que você falasse como essa parceria com sua filha. Quais foram os principais toques dela para o espetáculo?
Zezé Di Camargo - A Wanessa foi assistir o nosso show no Citibank Hall, no Rio. Depois, deu algumas opiniões. O nosso irmão e empresário, Emmanoel, quando soube das dicas de minha filha, falou: "por que vocês não colocam a Wanessa para dirigir? Ela está certa, tem uma visão ampla e vem com toque pop". O pouco que ela mexeu já deu uma grande diferença. Na abertura, por exemplo, que antes começava com um grande balé e outro tipo de iluminação. O nosso show começa agora com um instrumental de Toninho Cruz para "É o Amor".
Luciano - Em São Paulo, após o show no Rio, eu e a Wanessa chegamos cedo no Credicard Hall, ela foi falando e não dei palpite em nada. O pouco que ela mudou foi essencial para o nosso show. A abertura com a melodia de É o Amor, por exemplo, foi ideia dela. Ela nos disse que antes de mostrar qualquer coisa, tínhamos que mostrar a nossa música.
Se você fosse escolher a principal música da trajetória de vocês, a eleita seria mesmo "É o Amor"? Vocês imaginavam que ela seria o grande sucesso que até hoje é, e que seria gravada inclusive por nomes como Maria Bethânia?
Zezé Di Camargo - Nunca contei para ninguém, mas "É o Amor" nasceu quando eu pensava na Maria Bethânia, ou melhor, em uma música dela, "Negue". Na verdade, os primeiros versos surgiram de uma vez só: "eu não vou negar que sou louco por você, estou maluco para te ver, eu não vou negar. Eu não vou negar sem você tudo é saudade, você traz felicidade, eu não vou negar". Foi aí, depois destes versos, que eu lembrei da Maria Bethânia. Por obra dos destino e bênção de Deus, foi ela quem regravou "É o Amor", com aquela voz brilhante, 15 anos depois. Eu estava desesperado, pois estava com 12 músicas prontas e tinha mostrado para o produtor da gravadora. Ele disse que eu precisava de um hit. Esta cena foi mostrada no filme "2 Filhos de Francisco". Cheguei em casa e deu um comichão, assim nasceu. Foi Deus. Estamos encantados e agradecidos com todas as homenagens que os veículos de comunicação tem feito. Ganhamos até um especial, dia 25 de novembro, no Som Brasil. Tudo por "culpa" de "É o Amor", que completa 20 anos.
Há pouco, uma briga quase causou a separação da dupla. Agora que vocês se acertaram, qual foi a grande lição que tiraram desse episódio?
Zezé Di Camargo - Somos irmãos, a gente também se desentende, mas nos amamos. Discussão entre irmãos é bíblico, é normal, brigar e reconciliar é humano. Estamos juntos para sempre, amor de irmão é incondicional. Isso só fortaleceu nosso sentimento. A Luiza Brunet disse uma frase que marcou muito para mim: "Humaniza a classe artística". Enfim, mostra que somos gente.
Trabalhar em dupla é mesmo quase igual a um casamento, como disseram recentemente Chitãozinho e Xororó?
Luciano - Passamos a maior parte do tempo juntos, e longe de casa. Quando se tem amor e respeito, é como o casamento, o relacionamento se mantém.
O show que vocês trazem comemora 20 anos de carreira. Queria que você fizesse um balanço dessas duas décadas. Quais foram as maiores alegrias e as maiores dificuldades?
Zezé Di Camargo - Para nós, a maior alegria foi ter a nossa história no cinema e o reconhecimento do nosso publico. Mas, o momento mais difícil foi o sequestro do nosso irmão, Wellington. 
  
Essas novas duplas sertanejas são conhecidas por fazer o que chamam de "sertanejo universitário". O que você acha desse termo? Dessas novas duplas de música sertaneja, quais você gosta mais e por que?

Zezé Di Camargo - Não existe diferença entre o sertanejo que fazemos e o dito sertanejo universitário ou o pop universitário. Veja, por exemplo. Tem dupla de destaque e competente que regravou músicas de sucesso nossa ou de outro artista com um "pit" (levada mais rápida). Exemplo: "Como um Anjo" - sucesso nosso de 1994 - e "Você Vai Ver", músicas que ainda estão na cabeça das pessoas, mas que estouram agora nas vozes de artistas do chamado sertanejo universitário. Eu sou a favor de trabalhos inéditos. A não ser que você faça o que a gente fez com o lançamento do "Double Face". Mas se os novos artistas regravam nossos sucessos não tem nada demais. Não gosto do rótulo universitário. Ou melhor, não acho necessário rótulo. O que todos fazem é sertanejo e ponto. Pra que rótulos? Porque tem dupla que tem 17 anos de carreira, como João Bosco e Vinícius, que são meus amigos, que estão na estrada há muito tempo e fazem um belíssimo trabalho. Eles cantam sertanejo.
Luciano - Luan Santana canta desde que era criança. E canta música da gente. Ele mesmo conta que, desde criança, cantava "Você Vai Ver", que foi a primeira música que ele canto. É um menino que eu admiro o trabalho. Maria Cecília e Rodolfo estão na estrada há cinco anos. É um casal do pop sertanejo e tem músicas nossas nos shows. São nossos amigos. João Bosco & Vinícius gostam de Zezé Di Camargo & Luciano desde pequenos, mas ninguém pode esquecer que eu tinha 17 anos quando comecei. E esta galera cantou aí recentemente. Isso é muito bom. Reforça o gênero, só fortalece a música sertaneja, que é a paixão nacional. Muitos tem feito um excelente trabalho. Claro que, com o tempo, vai haver um peneira. O que é natural. Ficam os bons, sempre. Gosto de muitas duplas, como Maria Cecília e Rodolfo, Jorge e Matheus e João Neto e Frederico. Também gosto do Gustavo Lima. Este menino vai longe, canta muito. E somos fãs do Luan. Sobre Victor e Léo, que estão na estrada há 20 anos e há cinco, como eles dizem, foram reconhecidos nacionalmente, tenho todos os elogios do mundo que até faltam adjetivos.
Zezé Di Camargo - A música sertaneja faz parte da cultura do país, portanto, a cada ano surgem novas duplas e compositores excelentes. O gênero sertanejo não é modismo. A nossa origem é sertaneja, nunca negamos e não acreditamos que algum dia o nosso gênero tenha morrido ou venha a morrer. Como o Luciano diz, sertanejo universitário é um rótulo. Artistas como Jorge e Mateus, Victor e Léo, Fernando e Sorocaba, César Menotti e Fabiano e Maria Cecília e Rodolfo fazem sertanejo. Os leigos saem divulgando este rótulo de sertanejo universitário, como já teve forró universitário e pagode universitário. Não são os artistas que se divulgam assim. Eles respeitam os ditos tradicionais. Esses novos artistas fazem o sertanejo. Assim como aconteceu com a gente. Quando começamos, fomos intitulados de new sertanejo e nós recusamos este rótulo. Houve uma peneira e ficaram os que tiveram o reconhecimento do público. O mesmo vai acontecer agora. 
Quando surgimos, no final dos anos 80, aquele fenômeno era maior do que esse, mas com menos gente dentro do movimento. Naquela época, tinha especial na Globo de música sertaneja, o Leandro e Leonardo tinham um programa na emissora, havia umas cinco rádios FMs de música sertaneja no Rio. Hoje, só tem uma. As pessoas tem memória curta, mas o espaço era bem maior. O Nordeste, por exemplo, não entrou com a força toda como foi quando nós, Leandro e Leonardo começamos. Hoje, o dito sertanejo universitário é um fenômeno muito regionalizado, mais Centro-Oeste e Sudeste.

Há pouco, vocês revelaram que são fãs de Luan Santana. O que mais vocês admiram no trabalho dele?
Luciano - Desde que ele surgiu na Internet que acompanho o trabalho do Luan. Ele é sucesso e muito humilde. 
  
Quando vocês começaram, ainda se vendia muitos CDs. Vocês pensam futuramente lançar mãos de outros recursos, como download de música, compra de arquivos virtual e até mesmo digitalização de todo o acervo da dupla?

Luciano Camargo - Mesmo em época de pirataria e desta loucura de baixar música pela internet, em 20 anos de carreira, já atingimos a marca superior de 36 milhões de cópias. Você pode observar o seguinte: o público de Zezé Di Camargo & Luciano tem dois tipos. O que baixa música na internet e o que compra CD nas lojas. No ano passado vendemos quase 500 mil cópias. Foi o segundo CD mais vendido. E isso porque lançamos o "Double Face" em outubro. Falo deste trabalho porque ele resgata o sertanejo feito nos anos 80, com regravação original mais músicas inéditas, que retratam o nosso trabalho atual. Somos artistas que têm por obrigação fazer um trabalho deste, com álbum duplo, respeitando o público. Na maioria dos casos, a vendagem de um artista não paga o investimento que a gravadora tem na produção de um CD. No caso de Zezé Di Camargo e Luciano, a vendagem de nosso CD paga e muito. Nós não temos o chamado contrato de comissão com a gravadora. A gravadora não tem porcentagem em nossos shows como tem com alguns artistas. Não é arrogância. Porém, contra os fatos não existem argumentos. Também é fato que o gênero sertanejo não é moda. Ele é sucesso a cada geração que surge.
Todo artista tem um projeto que ainda não conseguiu concretizar, seja gravar um disco especial, bem diferente do que normalmente lança na carreira, ou dividir um trabalho com outro artista. Você tem algum projeto ainda que ainda não teve oportunidade de tornar realidade? Qual seria ele?
Luciano - Nesses 20 anos, gravamos com muitos artistas importantes e cantamos em todos os estados do Brasil, em muitas cidades voltamos algumas vezes, tem dois lugares que nunca pisamos e que gostaríamos de nos apresentar: a ilha de Marajó e Fernando de Noronha. 
  
Zezé Di Camargo - Tivemos o maior orgulho de dividir cena com artistas de todos os gêneros, seja em shows, gravações de CDs ou participações em especiais de TV, como Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Fafá de Belém, Dominguinhos, Asa de Águia, Carlinhos Brown (tivemos recentemente a participação dele carinhosamente no "Som Brasil"), Bruno e Marrone, Ivete Sangalo, Luan Santana, entre outros que fizeram parte dos nossos 20 anos. Sem falar dos Internacionais, como Julio Iglesias e Willy Nelson. Somos realizados. Tenho um grande sonho: gravar um CD com músicas do Roberto. 
  
Ano que vem,  Zezé, você faz 50 anos. Como você tem encarado isso, de ser um cinquentão? Envelhecer é algo que o preocupa? Pensa em fazer algo especial para a data?

Zezé Di Camargo - Para mim, a idade não influencia. Envelhecer é algo natural, todos nós passamos ou iremos passar, não me preocupo. E fazer 50 anos é uma bênção. Se parar para pensar, é pouco. A experiência é a nossa maior fortuna e só o tempo nos traz este presente. Penso em comemorar com a minha família, que em agosto do ano que vem estará mais que completa com a chegada do meu primeiro neto, José Marcus. Passarei meu aniversário com meu neto em meus braços. 
  
Para terminar: vocês pensam no futuro em fazer uma continuidade do filme "2 Filhos de Francisco", já que a história termina quando vocês exploram na parada de sucesso?

Luciano - Quem sabe vira um seriado na Rede Globo? Tem tantos filmes que viraram (risos). O nosso filme com certeza serviu para enriquecer ainda mais o nosso repertório, veio para mostrar uma história como a de milhões de brasileiros, de migrantes e imigrantes que sonham e lutam por uma vida melhor. Mas a proposta era terminar com a gente no palco e com sucesso. Era este o sonho de Francisco. De lá para cá, todos conhecem a nossa história, contada junto com o reconhecimento do povo brasileiro. 
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