Fungo da Amazônia é capaz de degradar plástico

FOTO: STOCKXPERTS
Poluição. Plástico usado na fabricação de garrafas permanece até 200 anos no meio ambiente
São Paulo. Pesquisadores norte-americanos descobriram um fungo na Amazônia equatoriana capaz de degradar o poliuretano, um tipo de polímero muito usado para a confecção de espumas, adesivos e tintas. O trabalho, publicado na "Applied and Environmental Microbiology", pode levar a estratégias inovadoras para reduzir o impacto ambiental dos plásticos.
Ambientalistas argumentam que os plásticos demoram muito para se decompor na natureza. O polietileno, por exemplo, leva cerca de 50 anos. O PET, usado na produção de garrafas plásticas, permanece até 200 anos no ambiente.
A descoberta de organismos que são aptos para degradar o plástico nos aterros sanitários ajudaria a encurtar o tempo de decomposição e a diminuir consideravelmente o dano causado no meio.
Duas cepas de Pestalotiopsis microspora, descobertas pelos pesquisadores - em sua maioria, estudantes de graduação da Universidade Yale, nos Estados Unidos -, mostraram um enorme potencial na degradação do poliuretano, por exemplo.
Cientistas explicam que fungos e bactérias ainda não desenvolveram o arsenal de enzimas necessário para degradar as longas cadeias sintéticas de carbono, hidrogênio e outros elementos que constituem os plásticos. Daí a necessidade de pesquisas e ações para remediar o problema.
Brasil. A pesquisadora Sandra Mara Franchetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rio Claro, realiza testes com fungos de diferentes espécies para comparar seu potencial para biodegradar plástico. Ela mistura diferentes tipos de plásticos - as blendas poliméricas -, especialmente de plásticos sintéticos com biodegradáveis.
"Nossa hipótese é de que o polímero biodegradável possa servir como porta de entrada para os organismos que realizarão a decomposição", explica a cientista.
Lucia Durrant, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também faz estudos na área. "Há poucos pesquisadores no país atuando nesta área, pois são necessários equipamentos muito sofisticados", aponta.
Um acordo, ainda em fase de implementação, do governo paulista e da Associação Paulista de Supermercados (Apas), pretende banir a distribuição de sacolas plásticas nos supermercados do Estado. O gesto seria para evitar que 2,4 milhões de unidades - cada uma leva, no mínimo, 40 anos para se decompor - sejam lançadas no ambiente todos os meses.
APLICAÇÃO
Esperança é utilizar a técnica em aterros
São Paulo. Na pesquisa norte-americana, o estudante Jonathan Russell identificou a enzima secretada pelo fungo responsável pelo enfraquecimento das ligações químicas do polímero. Os resultados trouxeram uma descoberta inusitada: a enzima funciona tanto na presença como na ausência de oxigênio, algo inesperado para os cientistas.
Assim, o fungo poderia funcionar também nos aterros sanitários, onde uma grossa camada de dejetos e terra costuma cobrir os plásticos descartados, diminuindo a oxigenação e, desta forma, dificultando sua decomposição.
Mais estudos
"Lixões". Derval Rosa, da Universidade Federal do ABC, tenta descobrir como a biodegradação ocorre nos aterros sanitários. "Talvez em 20 anos conseguiremos o nível para aplicar esse tipo de conhecimento.


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