Cantor se diz magoado com tratamento que recebe em MG

Agnaldo Timóteo reclama que no Estado natal raramente o convidam para fazer shows, levantando mais uma das polêmicas que cercam a carreira


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aguinaldo timóteo
Agnaldo Timóteo: 47 anos de carreira e 50 discos voltados para a música romântica


Enquanto dá uma “tratada” no cabelo e na pele, no salão do Jassa (cabeleireiro preferido do apresentador Sílvio Santos), em São Paulo, o cantor Agnaldo Timóteo desabafa: “Minas Gerais nunca me deu a menor bola, mesmo sendo muito mais vitorioso na carreira que Milton Nascimento”.

Nascido em Caratinga, há 75 anos, e vivendo hoje em São Paulo, onde se elegeu vereador pelo Partido da República (PR), ele reclama que no Estado natal raramente o convidam para fazer shows, levantando mais uma das várias polêmicas que cercam a carreira de 47 anos e 50 discos voltados para a música romântica.

Investigado pela Justiça de Caratinga por suposto envolvimento num esquema de aliciamento e exploração sexual de adolescentes, Timóteo não perde a pose nesta entrevista ao Hoje em Dia.

Convidado da sessão de abertura do programa “Curta Circuito”, que exibirá, às 19 horas, o documentário “Vou Rifar Meu Coração”, no Cine Humberto Mauro, ele passa a limpo temas controversos como a defesa da ditadura e dos bicheiros, dizendo que a democracia matou mais gente que na época do regime militar. E afirma: “Os bicheiros deram dinheiro para todos nós, de presidente da República a vereador”.

Apesar de seu primeiro mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro ter sido pelo PDT, o senhor se filiou mais tarde a partidos de centro-direita e é um dos grandes defensores de Paulo Maluf.
Em 1982, eu recebi mais votos do que o Tiririca, proporcionalmente. Foram 502 mil num universo eleitoral de seis milhões. Ele recebeu mais de três milhões num colégio de 30 milhões. Fiz uma campanha agressiva, prometendo mudar o Congresso, mas, quando cheguei lá, morri de vergonha, porque as pessoas que eu odiava eram simplesmente maravilhosas, como o (então presidente da República) João Figueiredo, o (ministro da Justiça) Ibrahim Abi-Ackel e o (ministro do Planejamento) Delfim Netto.

Eram pessoas completamente despidas de vaidade. O Delfim, que carregou a imagem de ladrão, ainda hoje levanta às 6 horas para trabalhar. Eu saí do PDT porque fui expulso. O Partido Democrático Trabalhista queria impor que eu votasse no maravilhoso Tancredo (Neves, nas eleições indiretas para presidente, em 1984) e eu não aceitei. Eu havia me comprometido com o Paulo Maluf, já tinha dado a minha palavra. Paguei caro, quase me destruíram, mas eu sobrevivi.

Se considera de direita?
Sou nacionalista. Aliás, sou mais socialista do que quem está no PT. Sou radicalmente socialista, mas gosto de riqueza e conforto. Não gosto de Cuba, aquelas casas horrorosas e aqueles carros caindo as pedaços. Gosto de luxo, mas divido o que ganho com as pessoas necessitadas.

No programa televisivo “CQC”, o senhor defendeu, recentemente, os tempos de ditadura, marcados por episódios de tortura e diminuição dos direitos individuais, dizendo ainda que apoiaria a volta do regime militar no país.
Naquela época, morreram alguns e quantos já não morreram na democracia?! Hoje acontecem crimes bárbaros. Lá trás, claro, aconteceram excessos, mas não tinha essa ditadura como falam. João Figueiredo dizia que lugar de brasileiro era no Brasil e trouxe todo mundo de volta (durante a anistia), inclusive assassinos e assaltantes.

Hoje, esses que voltaram estão no poder. Que democracia é essa em que o artista é proibido de cantar na Rede Globo, porque eu critiquei veemente o que fizeram com o (ex-prefeito de São Paulo) Celso Pitta, que morreu como ladrão?

O senhor também criticou os veículos de comunicação, especialmente a Rede Globo, pela abordagem dada à prisão do bicheiro Aniz Abrãao Davi, neste ano. É verdade que usou dinheiro desse grupo para se eleger?
Eles deram dinheiro para todos nós, de presidente da República a vereador. Todo mundo pediu para eles. O governo federal tem uma porção de jogos que nem sequer foram legalizados e quer exigir dos bicheiros? Que cinismo é esse? É um falso moralismo. Eles (os bicheiros) são meus amigos porque me ajudaram. E com dinheiro, na época que vivi uma barra pesada por ter desobedecido à Rede Globo e votado no Maluf. Era uma ordem da Globo votar no Tancredo.

O senhor está retornando à sua terra natal e...
Minas Gerais nunca me deu a menor bola, mesmo sendo muito mais vitorioso na carreira que Milton Nascimento. Ele é um colega extraordinário, mas minha história é mais consagrada que a do Milton. Apesar de apaixonado pelo meu Estado, estou profundamente magoado.

O retorno a Minas não poderia ser menos polêmico, acontecendo justamente num momento em que está sendo investigado em Caratinga por envolvimento num esquema de abuso sexual de menores.

Meu amigo Maguila (Cláudio Rogério Alves, professor de futebol, que, durante depoimento, mencionou Timóteo como participante) é um sonhador que fica esperando encontrar um novo Neymar. Não é fácil, aí a mãe de um menino que não era bom de bola ficou insatisfeita, e o acusou de pedófilo.

Imagina, um homem ser acusado de pedofilia por ter transado com um rapaz de 16 anos. Nessa idade, eles já sabem as suas preferências, se querem ser machos ou fêmeas. Com 16 anos, as meninas já rodam bolsinha na rua. Isso tudo é uma grande frescura.

Qual será sua ação agora que a Justiça de Caratinga acatou pedido da promotora para investigar a sua participação?
Fui lá na delegacia para prestar depoimento e disse que Maguila sempre ia à minha casa em São Paulo, levando toda a sua patota. Adoro o Maguila e já o ajudei “n” vezes, colocando dinheiro na conta dele.

Eu não me arrisco. Sempre respeitei a juventude, mas, lamentavelmente, hoje ela não é mais a mesma de ontem, quando aprendia uma profissão que permitiria viver com dignidade.
 


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