Região teme epidemia, já que em apenas 40 dias oito novos casos foram confirmados
LEONARDO MORAIS
Pontos de prostituição espalhados ao longo das rodovias que cortam a região
TEÓFILO OTONI - Oito novos casos de Aids foram confirmados em apenas 40 dias na microrregião de Teófilo Otoni, que abrange 23 municípios dos vales do Mucuri e Jequitinhonha. Em janeiro, outros seis registros foram diagnosticados, sendo três somente na pequena Caraí, que tem cerca de 22 mil habitantes.
O Consórcio Intermunicipal de Saúde que atende a região de Teófilo Otoni teme uma epidemia. No entanto, a coordenadora do Programa Estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), da Secretária de Estado de Saúde, Fernanda Junqueira, afirma que apesar do número elevado de novos casos a região não preocupa.
Segundo a coordenadora, a Região Central concentra a maior parte dos registros no Estado, seguida pela microrregião de Juiz de Fora e de Uberlândia. “O número de casos nos vales do Mucuri e Jequitinhonha é absolutamente normal, muito parecido com o que foi registrado no ano anterior”, disse Fernanda Junqueira.
O Ministério da Saúde (MS) preconiza que a cada caso confirmado, outros 10 soropositivos não sabem da possível contaminação. Há duas semanas, uma campanha de prevenção da Aids para os foliões do Carnaval distribuiu cerca de 20 mil camisinhas e panfletos educativos em Teófilo Otoni. Na cidade, no ano passado, foram 22 confirmações da doença. Em 2009, foram 34.
“Se fizermos a projeção, como estabelece o Ministério da Saúde, poderíamos ter uma população de 1.140 pessoas, em Teófilo Otoni, portadoras do HIV e que não sabem. É um número preocupante”, relatou Olímpia de Fátima Silva Franco, uma das coordenadoras do Consórcio Intermunicipal de Saúde da região.
Estima-se que 3,8 mil pessoas tenham contraído a doença nos últimos 13 anos na região. A estimativa tem como base os números de casos confirmados pelo consórcio de saúde.
Pontos de prostituição espalhados ao longo das rodovias que cortam a região são considerados focos de propagação da doença, alertam especialistas em saúde pública.
Levantamento recente feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta que somente num raio de 50 quilômetros da BR-116, em Teófilo Otoni, existem cerca de 50 locais de prostituição. A maioria bares e restaurantes de fachada, além de postos de combustível. Num deles, a reportagem do Hoje en Dia flagrou mulheres e travestis procurando “clientes” no pátio de um posto de combustível, a cerca de 30 quilômetros de Teófilo Otoni, na divisa com a cidade de Itambacuri. Os programas acontecem principalmente durante o período da noite.
O local é usado pelos caminhoneiros para pernoitarem. O preço cobrado pelo sexo varia de R$ 15 a R$ 30. “Elas vão de caminhão em caminhão oferecendo o corpo aos motoristas. São cerca de 25 garotas de programa que atuam no entorno do posto”, disse um frentista que preferiu não se identificar. Algumas garotas chegam a fazer até cinco programas por noite. O sexo é feito dentro dos caminhões.
Viciadas em crack em risco
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o maior grupo de risco para contaminação do vírus da Aids hoje são as prostitutas viciadas em drogas, principalmente em crack. De acordo com a presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte, conhecida por Dos Anjos, muitas atuam na região da Praça Rio Branco, que fica em frente da estação rodoviária.
“São mulheres que não aceitam nem mesmo o trabalho que fazemos de prevenção. Estão no fundo do poço e não têm nenhuma preocupação com a saúde ou com o futuro”, afirma Dos Anjos. “O que poderia ajudar seria uma política pública de saúde para as prostitutas viciadas em crack, o que hoje não existe”.
Dos Anjos acredita que nos pontos tradicionais de prostituição de Belo Horizonte, como a Avenida Afonso Pena, as poucas profissionais que ainda conseguem trabalhar estão conscientes do risco e preocupadas com a prevenção. “Hoje, a Afonso Pena está praticamente tomada pelos travestis. Quase não tem mulher lá”, diz.
A presidente do Sindicato das Profissionais do Sexo diz ter conhecimento de prostituição infantil na Afonso Pena apenas pelos veículos de Comunicação, e que esse tipo de prostituição na cidade seria exceção. A coordenadora do Programa DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde afirma que campanhas especiais de prevenção para as prostitutas são executadas periodicamente. “Temos campanhas para segmentos específicos da população, como as prostitutas e os homossexuais”, informa Fernanda Junqueira.