Defesa "culpa" vítima por não ter evitado a própria morte

Borracheiro filmado atirando nove vezes na ex-mulher será julgado na próxima sexta-feira



FOTO: REPRODUÇÃO
Cenas. Assassinato da cabeleireira Maria Islaine foi filmado pelas câmeras do salão; crime durou apenas 11 segundos
Na manhã de 20 de janeiro de 2010, a cabeleireira Maria Islaine Morais, 30, trabalhava em seu salão de beleza, no bairro Santa Mônica, na região de Venda Nova, quando foi covardemente executada com nove tiros. O autor do assassinato, hoje preso, é o ex-companheiro dela, o borracheiro Fábio Willian da Silva Soares, 31. Na próxima sexta-feira, a partir das 8h30, Fábio irá se sentar no banco dos réus, de onde ouvirá o veredicto dos sete jurados.

A estratégia da defesa para reduzir a pena pelo crime que ganhou repercussão nacional ao ser filmado pelas câmeras de vigilância do salão coloca a culpa na vítima. O advogado Ércio Quaresma, que representa o borracheiro, quer convencer o júri de que Maria Islaine poderia ter evitado o próprio assassinato.

A tese do criminalista é que a cabeleireira sabia do risco que corria e, no entanto, não tomou os devidos cuidados para se defender da fúria de um homem inconformado com o fim do relacionamento de cinco anos. "Horas antes do crime, ele (Fábio) foi ao salão e os dois brigaram. Ela (Maria Islaine) sabia do risco que corria. Se estivesse com medo de ser morta, tinha chamado a polícia mais cedo. Quando ele apareceu com a arma, todas as pessoas que estavam no salão correram. Ela colocou a mão na cintura e ficou parada", sustenta Quaresma.

As imagens da execução mostram que entre a chegada ao salão, a execução de Maria Islaine e a fuga, foram apenas 11 segundos.

Ao desqualificar o crime de duplamente qualificado - por motivo torpe e sem chances de defesa da vítima -, como quer a Promotoria de Justiça, o advogado espera reduzir em até dez anos a pena do borracheiro. Se for considerado culpado com os agravantes, Fábio Willian poderá pegar a pena máxima de 30 anos de prisão. Pelo homicídio simples, a condenação não passa de 20 anos.

O advogado Ércio Quaresma justifica que o ciúme que o assassino sentia pela vítima não pode ser considerado agravante do crime. "O ciúme não pode ser considerado um motivo torpe".
Para o promotor de acusação, Marino Cotta Teixeira, essa, no entanto, não foi a única motivação do assassinato da cabeleireira. Além da separação não aceita pelo borracheiro, Fábio e Maria Islaine brigavam pelo dinheiro da venda de um imóvel do casal avaliado em R$ 75 mil.

Proteção. O assistente da acusação, Marco Antônio Siqueira, também rebate a tese da defesa. "Ela realmente sabia que corria o risco de ser morta e não ignorou esse fato. Tanto que registrou oito boletins de ocorrência", disse. A Justiça havia decretado que o borracheiro mantivesse uma distância mínima de 300 metros de Maria Islaine. No entanto, o borracheiro morava a 50 metros dela.

Com medo das ameaças do ex-companheiro, quatro meses antes de ser morta, a cabeleireira mandou instalar as câmeras que registraram o assassinato.

Irmã conta que cabeleireira previa o pior
No julgamento desta sexta-feira, no Tribunal do Júri do Fórum Lafayette, será a primeira vez que o réu confesso, Fábio Willian da Silva Soares, 31, irá falar sobre o crime. Nas audiências de instrução, ele ficou calado. Segundo o advogado Ércio Quaresma, ele irá dizer que está arrependido e que amava a cabeleireira Maria Islaine.

O relacionamento de cinco anos entre a cabeleireira e o borracheiro sempre foi marcado pela violência e ameaças de Fábio. A irmã da vítima, Rosimar Morais, 37, conta que a irmã tinha medo de morrer e que poucos dias antes do crime pediu que se algo acontecesse a ela, que a família não medisse esforços para conseguir a condenação do borracheiro. (TT)
MINIENTREVISTA
"Ela tinha medo dele. Só queria viver"
Rosimar Morais
Irmã de Maria Islaine
O que a senhora espera do julgamento?
Esperamos que ele receba a pena máxima. Ninguém tem o direito de tirar a vida de uma pessoa, ainda mais como foi. Queremos voltar a confiar na Justiça. Até hoje a lei não esteve do nosso lado. A Maria Islaine o denunciou oito vezes e ele nunca foi preso.

Como a família lida com o crime?
Depois da morte da minha irmã, tudo piorou. Meu pai morreu poucos meses depois de desgosto e tristeza. A nossa esperança é que depois do julgamento, a gente se sinta preparado para seguir em frente.

A sua irmã falava sobre o medo que tinha do Fábio?
Sim. Ela sempre dizia que ele ia matá-la e que se isso acontecesse, era para a gente gastar todo o dinheiro que tivesse para garantir que ele fosse condenado. No fundo, ela sabia o que ele era capaz de fazer.

O que a senhora dirá na hora do julgamento?
É muito difícil falar sobre isso. Direi o mínimo. As imagens do crime falam por si. Minha irmã era maravilhosa, honesta e queria viver. (TT)
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