Não vale a pena abastecer com álcool em Minas há 13 meses

Setor disse que ICMS alto sobre o produto agrava a desvantagem



FOTO: ALEX DE JESUS
Disparada. Preços dos dois combustíveis estão em disparada nos postos de Minas e da capital
Julho de 2010 foi o último mês que o consumidor conseguiu abastecer o carro com álcool sem perder dinheiro em Minas Gerais, de acordo com pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) feita em mais de 4.000 postos no Estado. Para ser considerado vantajoso, o litro do etanol tem que custar até 70% do preço da gasolina.

Percentual menor que esse foi visto há 13 meses quando o preço médio da gasolina era R$ 2,380 e o do etanol, R$ 1,661, custando 69,7% do valor da gasolina, em Belo Horizonte. Em Minas Gerais, também em julho, a gasolina custava R$ 2,432 e o etanol R$ 1,695, uma relação de 69,6%. A ANP informou que não faz esse cálculo, apenas divulga a pesquisa de preços no site da agência. A reportagem fez as contas acompanhando a evolução dos preços mês a mês.

Quando o consumidor vai ter de volta um preço competitivo para o etanol frente à gasolina, ninguém sabe ao certo. O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins, disse que o etanol é inviável para o contribuinte em Minas Gerais por causa do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de 22% cobrado no produto. "Enquanto o governo do Estado não abaixar o ICMS, não vai valer a pena abastecer com álcool em Minas Gerais", afirmou Luiz Custódio, que não enxerga excesso de produção no futuro para fazer o preço do etanol cair no Estado.

O presidente da Siamig informou que os produtores ficaram dois anos antes de 2010 vendendo etanol abaixo do custo de produção. Em junho do ano passado, o produtor vendia a R$ 0,72 o litro do etanol para a distribuidora, enquanto o custo de produção era de R$ 0, 90. "Tínhamos que vender porque a oferta estava grande e o produtor precisava fazer dinheiro porque não tinha financiamento, o que permitiu ao consumidor comprar etanol mais barato", afirmou o produtor.

Com os problemas climáticos que diminuíram a produção por causa do excesso de chuva em 2009 e a seca em 2010, Luiz Custódio afirmou que houve queda na oferta. Para este ano, ele informou que o setor vai vender apenas 20% da produção de 2 bilhões de litros de etanol em Minas Gerais. "O restante vai para São Paulo, Goiás, Distrito Federal e a região Nordeste devido ao ICMS", disse Cotta.

O diretor do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, disse que o etanol só vai se viabilizar na bomba se a gasolina aumentar muito de preço. Para ele, como a demanda por combustível está muito forte, a situação está complicada. "Não acredito na viabilidade do etanol em curto e médio prazo, a não ser se a o valor da gasolina explodir novamente", afirmou Abreu.

Enquanto isso, o consumidor precisa esperar até a próxima safra para ver se o etanol vai valer a pena. "Abaixar o preço do etanol é difícil porque tem o consumo e a produção de açúcar altos. A própria indústria está desanimada", afirmou Feliciano Abreu.

Assim, quem vai comprar carro já não está ligando muito se ele é flex, ou não. O gerente da Aliança, concessionária da chinesa Cherry em Belo Horizonte, Flávio Murta, disse que de cada grupo de 10 pessoas que vão à loja, seis a sete consideram o carro movido a gasolina melhor.
Petrobras vai ajustar preço
São Paulo. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, voltou a repetir ontem que, em relação ao preço da gasolina, " em algum momento", a empresa terá que repassar a alta de custos para os preços do varejo. Segundo ele, desde maio de 2009 a Petrobras não reajusta o valor do litro da gasolina na refinaria para as distribuidoras, fixado em R$ 1,05. "Não vamos seguir o dia a dia do preço internacional. Mas vamos ajustar o preço doméstico algum dia", disse Gabrielli.
FOTO: JOÃO LÊUS
Já está faltando gasolina em alguns postos da região metropolitana
A manutenção na refinaria da Petrobras em Betim, a Regap, que começou em 31 de julho e deve durar trinta dias, já está prejudicando postos de Betim, que estão sem o combustível. O gerente de um posto no bairro Angola disse que já demitiu um funcionário e deu férias para outro. "Antes, o posto recebia cerca de dez mil litros por dia. Agora, estão entregando só 5.000 litros", informou o funcionário do posto. Outro dono de uma rede de postos em Betim disse que os prejuízos já passam de 50% do faturamento do 0mês.

Por meio de nota, a Petrobras informou que vinha fornecendo cerca de 160 milhões metros cúbicos de gasolina por mês e, durante a manutenção, esse fornecimento será de cerca de 120 milhões metros cúbicos por mês. O presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis (Fecombustíveis), Paulo Miranda, disse que a parada na Regap vai prejudicar postos de Belo Horizonte e cidades da região metropolitana e Central de Minas Gerais. (HL)
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